Num domingo qualquer em Nilópolis, o tempo desacelera para acompanhar o ritmo da memória. “Meu pai é um pintor” é mais que um filme — é um gesto de cuidado. Produzido por Catu Rizo, o filme faz parte da cena abundante que o cinema da Baixada Fluminense tem produzido na terceira década do século XXI.
Catu Rizo, diretora e filha do personagem, transforma a rotina do pai Milton, de 78 anos, em poesia visual. A câmera não apenas observa: ela acaricia. Acordar, pintar, cuidar do trinca-ferro e caminhar pelo Parque do Gericinó são exemplo de atividades do cotidiano do artista em queda de braço com o esquecimento progressivo. Cada gesto simples se torna parte de uma tela viva, onde a arte impressionista, as lembranças familiares e o realismo fantástico se entrelaçam.
Milton, com sua memória aos poucos esmaecida pelo Alzheimer, se torna protagonista de um documentário ensaístico que também é performance, invenção, carinho. O curta tem 15 minutos de duração e mistura imagens de Super 8, arquivos em VHS e cores do cotidiano da baixada, criando uma textura de aconchego e afeto. Ao lado de seu pai, Catu tece não só um filme, mas uma herança sensível entre gerações.
A produção envolve artistas da Baixada Fluminense e da capital. O filme “Meu Pai é um pintor” terá três sessões públicas no IFRJ (Nilópolis e Belford Roxo) e no Instituto Benjamin Constant. As exibições contarão com roteiro publicado em braile e versão em áudio, reforçando o compromisso do projeto com a acessibilidade.

“Meu pai é um pintor” nos lembra que há beleza no comum, e que memória, mesmo que falha, pode ser eternizada na tela.
Foto/Crédito: Catu Rizo.

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